Você calça o tênis, sai de casa, e lá está: sol na cara, batimento acelerado, perna pesando. Aí você diminui o ritmo, dá aquela desacelerada pra respirar melhor, anda uns metros… e logo vem aquela vozinha chata na cabeça: “Ah, então não valeu”. Mas quer saber? Essa voz não entende nada.
Muita gente trata a corrida como uma prova de fogo constante, como se só valesse se você corresse sem parar, sem pausa, sem trégua. Isso já ficou ultrapassado. Caminhar durante a corrida não tira mérito nenhum. Pelo contrário: mostra que você sabe se cuidar, que quer seguir treinando sem se quebrar e, acima de tudo, que sabe escutar o próprio corpo.
De onde saiu essa ideia de que “caminhar é fracassar”?
Tem gente que encara a caminhada como se fosse um pecado dentro da corrida. Como se existisse uma regra invisível dizendo: “se você não correu tudo, não vale”. Mas, sinceramente, quem inventou isso?
Olha pro lado e conversa com quem já corre há um tempo. Muita gente inclui caminhada desde o início do treino. Outros diminuem o ritmo quando o calor aperta ou quando o percurso é puxado. Isso não é trapaça. Isso é bom senso.
Talvez esteja na hora de parar de tratar a caminhada como sinônimo de derrota. Ela é, na verdade, uma aliada.
O que acontece no corpo quando você dá uma caminhada
Caminhar no meio da corrida não significa que você desistiu. Significa que você deu um respiro. Pro coração. Pros músculos. Pro pensamento.
Quando você anda, o batimento abaixa um pouco, a respiração entra nos eixos, a musculatura ganha fôlego e a mente desliga o modo pânico. Tudo isso te coloca de volta no jogo.
A caminhada tem esse poder de fazer a gente retomar o controle do corpo. De mudar de marcha, como quem dirige na serra: mais devagar, mas sempre subindo.
Caminhada não é coisa de iniciante
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Tem um método famoso chamado Galloway, criado por um ex-atleta olímpico, que propõe exatamente isso: intercala corrida com caminhada desde o início do treino. E tem muita gente experiente que segue essa ideia.
É bom pra evitar lesões, aumentar o tempo total correndo e terminar o treino com energia pra repetir no dia seguinte.
Olha só o que as pausas podem ajudar:
- Esticar o tempo do treino sem esgotar o corpo
- Evitar aquele desgaste que machuca
- Tornar os treinos puxados mais tranquilos e possíveis
Tem dia que não é sobre bater recorde. É sobre sair, se mexer, e voltar pra casa se sentindo bem.
O maior obstáculo é o orgulho
Tem muita gente que evita caminhar não porque não funciona, mas porque acha feio. Como se só fosse atleta quem corre sem parar. Mas o verdadeiro atleta é aquele que escuta o corpo e sabe fazer escolhas inteligentes.
Dar uma pausa não é dar um passo pra trás. É ajustar o passo pra conseguir continuar. O orgulho quer que você corra até quebrar. O bom senso quer que você corra mais vezes, com prazer e sem lesão.
Hora certa de caminhar: você sente
Não precisa de aplicativo, nem de regra. O corpo avisa. Basta prestar atenção.
Alguns sinais são claros:
- A respiração sai do controle, mesmo com ritmo constante
- O corpo começa a travar e o movimento perde a leveza
- O calor aperta, o ar fica pesado, e tudo começa a incomodar
- Ainda falta muito do percurso e você sente que precisa guardar energia
Caminhar um pouco não apaga o esforço que já foi feito. Pelo contrário: prepara você pra terminar melhor.
Caminhar não é parar – É seguir com sabedoria
Cada um corre por um motivo. Pra esvaziar a cabeça. Pra ter mais disposição. Pra se superar. Mas todos têm algo em comum: querem continuar.
A caminhada no meio do treino é sinal de quem pensa a longo prazo. De quem prefere seguir firme, sem pressa e com menos chance de parar de vez. De quem entendeu que não precisa sofrer pra progredir.
Se a perna pedir pra dar um tempo, dá. Anda com vontade. E depois volta a correr com mais fôlego e leveza. Isso não é sinal de fraqueza. É prova de sabedoria.